Escrevo este pequeno texto com a finalidade de apresentar a importância de descobrir o perfil comportamental de nossos alunos para que que o complexo processo de ensino e aprendizagem seja mais assertivo. Na condição de professor e de pesquisador com mais de uma década de experiência em sala de aula, quase que diariamente, tenho me deparado com muitas estratégias pedagógicas, algumas incrivelmente criativas. A final, o enigma pedagógico atual é como merecer a atenção dos alunos em meio as tantas oportunidades de comunicação, mais intuitivas. O mundo está a alguns toques na tela de um Smartphone.
A experiência de que falo se encontra associada ao cotidiano de cursos de direito, em instituições pública e privada. Embora possa não parecer, o enigma pedagógico existe em ambas as situações, embora as tentativas de solução estejam mais presentes nas instituições privadas.
Para escrever este texto, parto de duas premissas como pontos de partida. A primeira delas é que estudantes possuem perfis que justificam determinados comportamentos; a depender do perfil, eles agem (naturalmente) de uma forma ou de outra. A segunda premissa é que somente conhecendo esse perfil comportamental se pode planejar com eficiência, diminuído sensivelmente as chances de erros.
Essas premissas não precisam ser aplicadas apenas na educação, porque podem ser utilizadas em todas as relações interpessoais. Desde que as relações envolvam pessoas, o ato de conhecer o perfil potencializa a chance de a comunicação ser mais assertiva. Já expliquei essa intrincada questão numa visão retórica, da comunicação humana em sua característica principal: a persuasão. Qualquer professor deseja convencer seu auditório que aquilo que está falando merece atenção, “é coisa séria”, e que pode ser confiada. O fato da informação ser prestada por um “professor” ajuda bastante, posto que a sala de aula é um ambiente excessivamente hierarquizado: aluno de um lado, professor do outro.
Essa relação, entretanto, tem mudado significativamente. Não basta aos professores trazerem as informações, eles precisam levar a informação de uma ou de várias maneiras que se torne algo palatável, agradável. O professor é muito mais um orientador que um repetidor de conteúdo.
Em meio a esses problemas da contemporaneidade, hiperinflacionado pelo advento da conectividade, tem-se falando bastante em “metodologias ativas”. O professor não pode dar o peixe, precisa ensinar o aluno a pescar. Num curso de direito, é muito provável que durante os cinco anos da graduação o estudante termine os créditos das disciplinas como alto grau de desatualizações, dadas as emendas constitucionais, a revogação das leis infraconstitucionais e o fenômeno de interpretação casuística dos tribunais entre efeitos repetitivos dos recursos e declarações de inconstitucionalidade erga omnes.
Neste texto não problematizarei qualquer metodologia ativa, a ideia aqui é outra. A tese que defendo é: somente conhecendo o perfil dos estudantes se pode indicar a melhor metodologia de aprendizagem.
Da mesma maneira, não se pode exigir que o professor utilize uma metodologia como a gamificação, quando seu perfil indica que ele atua melhor com um estudo de caso. Todavia, o foco deste texto é o aluno. Não se pode exigir que o aluno x aprenda melhor em grupo, quando ele, por questões de perfil, apreende melhor sozinho. Não são raras as vezes que alguns estudantes pedem para fazer um exercício a sós, ao invés de dividir a experiência com outros alunos.
Há um grande equívoco em se ditar uma metodologia ou se pensar que determinada metodologia é melhor que a outra. Metodologia deriva de método, e método é “caminho”. Pessoas diferentes podem – e porque não, devem – trilhar caminhos diferentes para chegar a um determinado lugar. Existe aluno que anota as aulas, grava a fala dos professores, tira fotos, ao passo que outros, preferem apenas observar as aulas, sem registrar um único risco. Há alunos que são capazes de ministrar aquela aula, antes do professor iniciar a exposição, e gostam de se mostrar assim. Outros alunos, preferem permanecer calados, indagando apenas no intervalo, com breves e pessoais comentários.
Depois de mais de uma década observando os comportamentos dos estudantes, verifico que os alunos podem ser classificados dentro dos perfis comportamentais defendidos por Marston. Willian Moulton Marston, as pessoas podem ser classificadas de acordo com seus comportamentos em quatro tipos: dominantes (D), influentes (I), estáveis (S) ou conformes (C)3. O perfil dominante e o influente valorizam as relações interpessoais mais que os processos impessoais, campo daqueles que possuem perfis estáveis ou conformes. Pessoas dominantes e influentes tendem a ser mais impulsivas, e são muito boas para a realização de tarefas imediatas, como organizar um trabalho em sala de aula não planejado por exemplo; as dominantes se preocupam com o resultado, ao passo que as influentes valorizam o entusiasmo e a colaboração: todos devem se dar bem!
Pessoas com perfil conforme ou estável são mais cautelosas nas suas relações, refletem prós-e-contra a todo momento, e se diferenciam porque enquanto as conformes prestigiam a precisão e a fundamentação das informações que, as estáveis são capazes até de relativizar a precisão diante da confiança que depositam nos outros.
Há um grande equívoco em locar pessoas dotadas de um perfil planejador em trabalhos que exigem ações mais imediatas e improvisações. Do mesmo jeito, é errado colocar pessoas que preferem a improvisação em trabalhos que exige mais cautela e análise. Todos nós temos um pouco de cada um desses perfis, posto que ninguém é um só perfil desses. Contudo, sempre há um ou dois perfis que predominam, e entender qual ou quais predominam, e como eles interagem, ajuda a decifrar os comportamentos humanos. As relações interpessoais passam a ser efetivas. Isso porque entender o perfil do outro, ajuda a entender qual caminho lógico e racional eles normalmente justificam suas atitudes.
Planejar é uma tarefa difícil, mas necessária em qualquer área, e também no mundo business. Uma sala de aula é como um jogo de xadrez, cada peça reúne determinadas características com pontos fortes e fracos; as peças têm limitações quanto ao movimento no tabuleiro: um erro pode ser fatal. Evidente que nós seres humanos temos uma capacidade imensa de nos adaptar, e exploramos características que não são as nossas características melhores por vários motivos. Contudo, a adaptação nunca explorará aquilo em que somos melhores.
POSTADO POR: PROF. DR. JOÃO CLÁUDIO CARNEIRO DE CARVALHO